bullet História
bullet Costumes
bullet Recursos
bullet Eventos
bullet Links



VOLTAR À PÁGINA INICIAL

bullet Olhão
bullet Fuseta
bullet Moncarapacho
bullet Pechão
bullet Quelfes

PATRÃO JOAQUIM LOPES

 

Nascido em Olhão em 1798 e falecido em Paço de Arcos em 1890 com 92 anos.

Embora tenha frequentada a escola e tenha aprendido a ler e escrever, aos 10 anos começou logo a trabalhar no mar, exactamente no mesmo ano (1808) em que os franceses foram expulsos de Olhão e o caíque Bom Sucesso foi ao Brasil avisar o Rei da libertação nacional.

Aos 19 anos emigrou como pescador para Gibraltar mas, sem sucesso, pelo que aos 21 anos foi viver  para a Vila de Paço d'Arcos, onde trabalhou como remador da falua do Bugio. Aqui tornou-se Patrão de Salva Vidas, tendo-se destacado por imensa bravura ao salvar centenas de vidas na Barra do Tejo.

Foi condecorado com a "Ordem da Torre Espada" pelo Rei D. Luís, a patente de 2º Tenente da Armada pela Marinha, e uma condecoração do governo britânico pelo salvamento da tripulação de duas escunas inglesas.

Teve funeral nacional organizado pela Marinha.

No cemitério de Oeiras pode-se visitar o seu mausuléu, e em Paço d'Arcos existe um monumento de homenagem na rotunda da Avenida Marquês de Pombal.

Em Olhão, no Jardim Patrão Joaquim Lopes inaugurado em 1957 (frente à Ria Formosa), foi colocado um seu busto em 1976 com alguns versos de Tomaz Ribeiro, e que sempre me impressionaram:

"Ganhou que as traz ao peito hábitos e medalhas
Nunca matando irmãos, mas a rasgar mortalhas"

Antero Nobre escreveu uma biografia de Joaquim Lopes - O Homem que venceu o Mar - do qual se retira um excerto publicado no jornal "O Olhanense" em 15-10-2002:

No dia 24 de Fevereiro de 1862, Joaquim Lopes recebia, na sua pobre casa de Paço d'Arcos, uma visita inesperada e que sobremaneira o honrava. O Rei D. Luís, em pessoa, visitava o patrão do salva-vidas, o humilde "Joaquim da Falua" para felicitá-lo pelo salvamento heróico da tripulação do Almirante!

Foi longa essa visita, que pôs em jubiloso alvoroço a já numerosíssima família do velho "lobo do mar" e até a vila de Paço de'Arcos. Foi longa e, ao que dizem os jornais da época, cordialíssima e nada protocolar. D. Luís demorou-se uma tarde inteira a conversar com Joaquim Lopes, sem etiquetas, falando com ele "como de marinheiro para marinheiro", porque El-Rei também fizera a sua educação de príncipe nas fainas do mar: quis conhecer pormenorizadamente todos os actos de heroísmo que praticara na sua já longa vida de salvador de vidas, quantos barcos socorrera e quantas pessoas arrancara às fúrias do mar, quais as condecorações e recompensas que recebera, quais os seus vencimentos e dificuldades com que vivia; interrogou-o sobre a sua família, que quis lhe fosse apresentada, sobre a vida que faziam seus filhos e netos e a forma como honravam o sangue generoso do seu heróico progenitor. E o Patrão a tudo respondeu, com a sinceridade e por vezes rudeza dos homens do mar, que nada sabem de etiquetas, mas dão lições de sinceridade e são mestres de lealdade.

El-Rei mostrou-se encantado com tudo quanto viu e ouviu, não o escondendo do cortesão que o acompanhava e nem sequer daquele a quem honrava com a sua visita. E, ao retirar-se, convida o patrão do salva-vidas da barra do Tejo a visitá-lo no seu Paço de Caxias, ali bem perto onde acidentalmente se encontrava.

Joaquim Lopes não se fez rogado tanto mais que considerava uma obrigação ir agradecer a Sua Majestade a honra que concedera à sua humilde casa e à família.

E, logo no dia seguinte, apresenta-se em Caxias, envergando a sua melhor andaina, sobre a qual brilhavam já então cinco medalhas de ouro e três de prata. D. Luís recebeu-o afectuosamente, de novo conversou longamente com ele, principalmente sobre coisas do mar e, ao despedir-se, apertando com entusiasmo a mão calosa de Joaquim Lopes, lançou-lhe sobre os ombros o colar de Oficial da Torre e Espada, de Valor, Lealdade, e Mérito. El-Rei reparava, assim, por um acto puramente pessoal, magnânima e expressivamente, as injustiças anteriormente cometidas; começava a verdadeira consagração do herói! E Joaquim Lopes, compreendendo-o e sentindo-o na sua alma singela e generosa, não pode, por isso, deixar de chorar nos braços do seu Rei!


Esta foto presumo que seja de um filho ou neto que também foram salva-vidas (António Paula Brito)

À Imprensa, que tanto se batera para que fosse feita justiça ao bravo patrão do salva-vidas, rejubilou com a atitude do Rei e o coro de louvores foi unânime.

Mais uma vez, porém, Joaquim Lopes recebia honras, embora, muito justas, mas não recebia dinheiro e a vida continuava difícil na sua casa. É que isso não dependia do Rei e sim do Governo e esse... tinha mais em que pensar. A política absorvia-o de todo, com as suas intrigas, e recompensar um herói era coisa de somenos importância e de menor urgência. E foi preciso que um deputado levantasse a questão no Parlamento, fazendo dela um motivo de ataque ao Governo, para que o caso tivesse remédio; mas não foi também o Governo quem lho deu, pois tornou-se necessário ainda que o próprio Parlamento o decidisse espontaneamente, para que a recompensa se efectivasse.

Com efeito, as Câmaras, por sua própria iniciativa, acabaram por votar a Joaquim Lopes uma pensão anual de 240$00 com transferência para sua mulher ou filhas. E só depois disso, a 23 de Agosto de 1866, por iniciativa do Visconde da Praia Grande, ao tempo Ministro da Marinha, o Governo lhe concedeu a graduação de segundo tenente da Armada.

Não foram, porém, só estes os actos definitivamente consagratórios do Patrão Joaquim Lopes como verdadeiro herói nacional. Em 1885, por iniciativa do grande poeta Tomaz Ribeiro e do Marquês da Fronteira, seus devotados amigos e incondicionais admiradores (o segundo já lhe oferecera, até as dragonas de ouro, o chapéu armado e a espada, quando ele fora graduado em segundo tenente), foi inaugurada uma expressiva lápide na humilde casa de Paço d'Arcos onde o Patrão vivia, junto do velho posto de socorros a náufragos; ainda lá está hoje, essa lápide glorificadora (a casa do bravo "lobo do mar" foi, como relíquia que é, poupada nas demolições a que forçou a construção da encantadora estrada marginal Lisboa-Cascais) e nela se lêem, além do ano da inauguração e dos nomes dos dois homenageantes, que na própria legenda se intitulam seus amigos e admiradores, estes dois expressivos versos de Tomaz Ribeiro:


Mausoléu no cemitério de Oeiras

 

 

"Quando o Patrão, já velho, ao pé do mar assoma,

Só de encarar o Oceano o atemoriza e doma".

 

E pouco depois, a Sociedade Beneficente do Pará e o Centro Promotor das Classes Trabalhadoras nomeavam seu sócio honorário o bravo Joaquim Lopes.


Vista parcial do Jardim Patrão Joaquim Lopes, perto dos Mercados, em Olhão, cujos aterros iniciaram-se pelo menos na década de 1950, mas só inaugurado em 1967
(clique na fotografia para ampliar)

Monumento ao Patrão Joaquim Lopes, inaugurado em 1969, no Jardim do mesmo nome (clique na fotografia para ampliar)
O busto em bronze baseia-se na escultura de José Moreira Rato (1860-1937), no Museu José Malhoa (Caldas da Rainha), datada de 1888

A última destas Sociedades foi, mesmo, mais longe: inaugurou, no seu principal salão, o retrato de Joaquim Lopes, colocando-o entre os dois estadistas Manuel da Silva Paços e José Estevão Coelho de Magalhães, numa festa que ficou memorável e a que assistiu, comovidíssimo, o próprio homenageado. Foi a propósito desta festa, que Tomaz Ribeiro, o consagrado poeta do "D. Jaime" escreveu o seu poema "Novas Conquistas" em que o Patrão Joaquim Lopes é evocado e enaltecido nestes termos:

"Ao pé de tais varões, à sombra desta glória,

quem podes tu supor que estava ali? Que história

te parece condigna à história destes dois,

que desse um companheiro às sombras dos heróis?"

 


Vista do Jardim Patrão Joaquim Lopes e o monumento ao Patrão Joaquim Lopes, em Olhão