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João Lúcio

Advogado e, sobretudo conhecido como um dos maiores poetas algarvios, nasceu em Olhão a 4 de Julho de 1880 e faleceu na mesma terra em 1918, apenas com 38 anos.

Sendo o pai um grande proprietário rural, sempre desejou que o filho estudasse agronomia. No entanto, João Lúcio sempre revelaria grande inclinação pelas artes e poesia (seus primeiros versos foram publicados no periódico "O Olhanense" com apenas 12 anos) e decidiu cursar Direito em Coimbra, onde criou um periódico estudantil - "Ecos da Academia" - e, para a festa de fim de curso, em 1902, escreveu a peça "Até que enfim!"...

Fora companheiro em Coimbra do Dr. Augusto Castro, que haveria de ser em Lisboa durante muitos anos Director do Diário de Notícias. Embora um em Lisboa, outro em Olhão, nunca deixaram de corresponder-se.

Dizia Augusto de Castro em "Conversar": "Estou a vê-lo, como ele era então na aula do Calixto - alto, muito magro, uma grande gaforina, encaracolada, coroando como uma trunfa leonina, a sua linda cabeça de aedo (poeta religioso e épico) e de tribuno. Dentro das sebentas de Direito Natural, ele trazia já escondido um livro de versos admirável, talvez a sua obra-prima - 'Descendo'".

Após o curso, abriu escritório em Olhão e em poucos anos ganhou fama de um dos melhores advogados do Algarve.

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Politicamente foi um monárquico convicto, amigo e apoiante de João Franco, o responsável por uma ditadura que ao tentar impor alguma ordem aos últimos anos da Monarquia, foi responsável pelo crescimento dos ódios contra a mesma monarquia e à sua queda definitiva.

Por ser um orador influente, foi eleito deputado franquista em 1906 e posteriormente foi Presidente da Câmara de Olhão. Após a implantação da República, em 1910, ainda voltou a ser deputado pela minoria monárquica.

O seu conservadorismo monárquico, aliado ao facto de pertencer a famílias muito distintas levava-o a desconsiderar todo o novo-riquismo que então se vivia em Olhão com a ascensão dos conserveiros.

Grande apaixonado pelo Algarve escreve a sua obra poética mais conhecida - "O meu Algarve" -, onde hiperboliza a luz, as cores, a terra e o mar do seu Algarve. António José Saraiva e Oscar Lopes em "A História da Literatura" referem-se ao poeta como um António Nobre algarvio, «pelo seu exuberante gosto da cor e mitologia popular». O Dr. Francisco Fernandes Lopes, seu conterrâneo, define o poeta como "fibrilharmente torturado pelo mistério do mundo e pelo espectáculo fragoroso da vida vulgar".

Publica ainda "Nas Asas do Sonho", uma ode à capacidade humana de sonhar para fugir à realidade, e mais tarde, "Espalhando fantasmas", "Impressões de viagens" e "Vento de Levante".

O seu amor pelo Algarve revela-se ao regressar de Itália, quando um amigo lhe pergunta se era verdadeiro o rifão dos italianos  - ver Nápoles e depois morrer! -, ele respondeu: "... qual história! Deixem-nos falar. Eles nunca vieram ao nosso Algarve!" (Villares, João).

João Lúcio foi um poeta naturalista, romântico e sonhador, tanto na política, na escrita, como noutras áreas da sua vida.

Após o acidente trágico que vitimou o seu filho varão (a avó, que sofria de senilidade, deixou-o cair de uma janela), João Lúcio resolveu encontrar um local onde conseguisse um maior isolamento espiritual. Iniciou por isso a construção em 1916 duma moradia perto de Olhão, o chamado Chalé de Marim, escondido no pinhal da sua Quinta de Marim, local rico de lendas sobre mouras encantadas, e que ainda hoje pode ser visitado junto ao Parque de Campismo de Olhão, pois foi transformado em Ecoteca (informações sobre suas actividades em telef.289 700 940).

Pelo seu exotismo, é considerado como um exemplo máximo da arquitectura simbolista em Portugal (existe apenas outro exemplar nacional: a extraordinária Quinta da Regaleira, em Sintra) . Trata-se de um edifício com três pisos, de forma quadrangular, sem frente nem traseiras.

Orientadas segundo os quatro pontos cardeais, quatro escadarias marcam as entradas para o centro da casa, rematado com uma clarabóia. A escadaria a Norte tem forma de peixe; a Sul, de guitarra; a Nascente, de violino; a Poente, de serpente. Simbolicamente, o peixe representa a água mas, ao contrário do que seria de esperar, está virada para o Norte (continental); a guitarra simboliza o fogo e, também ao contrário do que seria de esperar, está virada para o Sul (líquido); o violino simboliza o ar mas está virada para o fogo do Sol (nascente); a serpente simboliza a terra e a realidade, pelo que está voltada para a urbe de Olhão.

Também cada sala interior apresenta determinada simbologia, expressa nos adornos e num poema.

Poderá ver um um filme de 4 mn sobre o Chalé e a sua envolvente aqui.

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Entrada em forma de violino (a Nascente)

"Quando em baixo, ruje, o temporal, sem fim, dessa miséria,
 oh Pó, em que tu te esfacelas,
 Eu subo à minha Torre esguia, de marfim,
 onde me coa o sonho, o filtro das estrelas"

(in "Obra Poética de João Lúcio")

Infelizmente, João Lúcio pouco tempo viveu nesta sua casa, pois que a gripe pneumónica ceifou-lhe a vida em 1918, apenas com 38 anos.

Saber mais, na Wikipédia... e

Visualizar um filme sobre o poeta, a sua obra e o seu Chalé, produzido pela APOS e pela Ecoteca de Olhão, a propósito de uma visita ao Chalé no dia 29 de Abril de 2007. Tem participações de Rui Andrade (declamador), Fátima Monteiro (directora da Ecoteca), Fernando Cabrita (sobre o poeta), Jacinto Palma Dias (sobre a arquitectura simbolista, representada pelo Chalé). A edição e montagem foi de João Marco.

Fonte: