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Adriano Baptista

Nasceu no dia 25 de Maio de 1910 em Mértola (Santana de Cambas), e faleceu em Olhão, dia 3 de Janeiro de 1977.

Notabilizou-se em Olhão como artista completo: desenhava e pintava maravilhosamente para jornais e revistas, escreveu teatro, poesia, e tocava guitarra com Carlos Paredes e outros gigantes da época.

Com cerca de 8 anos radicou-se em Olhão com os pais e aqui fez apenas a instrução primária. Estes eram pobres, e ele, pouco mais foi que remediado. Era muito tímido, solitário e nunca almejou ganhar muito dinheiro com a sua arte.

No entanto, desde a escola primária tinha uma facilidade incrível para o desenho e pintura. Com uma enorme facilidade captava as emoções da situação e transpunha-as para a tela.

Pintou sobretudo Olhão e a Ria Formosa, mas obteve reconhecimento nacional sobretudo pelas caricaturas que fazia para os jornais desportivos dos futebolistas que passavam por Olhão. Era com extraordinária facilidade com que captava os traços mais interessantes das pessoas nestas suas caricaturas.

Além dos futebolistas, foram caricaturados tanto as figuras populares de Olhão (a "Ferreira", o "Meia-a-hora", o "Zé da Glória", o "Pezinho", etc.) como as figuras mais distintas (o Dr. Francisco Fernandes Lopes, o Dr. José Barbosa, etc.).

Havia um jornal que lhe pedia três caricaturas de jogadores de cada equipa que se deslocasse a Olhão para defrontar o Olhanense. Ele ia ao balneário, olhava para três destes jogadores e depois seguia para casa. E era aí que fazia surgir os seus maravilhosos desenhos, sem que ninguém percebesse como é que ele conseguia relembrar as caras dos jogadores!

Outros jornais, nomeadamente o Stadium, enviava-lhe fotografias para ele as transformar em caricaturas.

Adriano Baptista desenhava de qualquer maneira (carvão, tinta da china, aguarela, óleo, pastel) e em qualquer papel (até no mármore das mesas do Café Avenida!). Devido à vida remediada que levava, era ele próprio que preparava as suas tintas.

Não teve qualquer formação académica nas suas artes! Aliás, nunca saiu de Olhão nem aceitou os empregos que lhe ofereceram em Lisboa. Foi muito admirado por conhecidos caricaturistas da época.

O crítico Aniceto Carmona referia-se a Adriano nestes termos: " A arte deste artista é estranha, mas ao mesmo tempo verdadeira. Os seus trabalhos são uma análise psicológica. Adriano, dava-lhe relevo, animava-os e como que surpreendia a alma das figuras que pintava" .

Tem actualmente as suas obras dispersas em casa de muitos olhanenses e em colecções particulares na Europa, Brasil e Estados Unidos. A Câmara Municipal tem também algum do seu espólio. Seria interessante tentar reunir pelo menos as imagens fotográficas de todos estes desenhos!

Mas Adriano Baptista também versejava e rimava com imensa facilidade tendo por isso ganho muitos prémios em concursos de jogos florais por todo o País, tanto em quadra livre, como em quadra obrigada a mote.

O Dr. José Barbosa refere no seu livro duas quadras, uma que ganhou um concurso em Faro e outra na Emissora Nacional:

            Saltei, saltámos os dois
            Bailámos numa ânsia louca,
            Fomos para casa e... depois
            ... E depois?... cala-te boca.

                    ....

            Cantas, gritas... quem diria
            De quanto a "lata" é capaz.
            Pois é a lata vazia
            A que mais barulho faz.

Sempre que havia necessidade de versejar para animar peças de teatro, em Olhão, o Adriano era logo requisitado (ver um "diálogo entre um marítimo e um burguês", "As quatro estações do ano", "Dez flores do jardim" ). Também escreveu operetas e peças de teatro que ensaiava e levava à cena na Sociedade Recreativa Progresso Olhanense, nomeadamente a opereta "Lenda das Amendoeiras" e a peça de teatro "Conversa para mais um número" (no ano de 1938).

Finalmente, foi um exímio guitarrista da escola coimbrã e animou muitos convívios em conjunto com artistas como Carlos Paredes, Hilário, Armandinho, Albano de Noronha, etc. (esteve uma temporada em Coimbra por convite de estudantes de Olhão, com o propósito de fazer caricaturas aos finalistas da Universidade, acabando por conviver com todos estes artistas). Aprendeu a tocar este instrumento na barbearia de Fernando de Sousa, que para alguns foi o melhor guitarrista do Algarve.

É curioso que nesse tempo as barbearias tinham habitualmente uma guitarra para os clientes se divertirem e eram, por isso, autênticas escolas de música.

Na sua vida pessoal era muito indeciso, tímido e desconfiado com os desconhecidos, embora muito conversador com os amigos. Apenas se sentia seguro em Olhão, onde adorava deambular sozinho ou com os amigos Jónatas da Silva, o Fernando de Sousa, o Herculides dos Santos, nas serenatas nocturnas, até às tantas da madrugada.

Quando jovem empregou-se numa litografia, depois numa casa bancária que foi à falência, a seguir numa fábrica de conservas que também faliu, e finalmente no Hospital, onde foi chefe de secretaria durante 25 anos.

A verdade é que todos estes trabalhos de secretaria eram apenas o seu ganha-pão remediado, pois o que o animava era a criação artística.

Era muito desorganizado e desinteressado das lides caseiras, mas também muito teimoso no seu modo de vida boémio. Até muito tarde, viveu com a sua mãe enquanto esta foi viva, sempre com alguma conflitualidade pois a mãe não compreendia a sua pouca inclinação para se fazer um homem comum de família. Uma vez, num ato de fúria, a mãe queimou-lhe algumas obras teatrais e de poesia que para sempre se perderam.

Quando iniciou funções no Hospital da vila, passou a comer e a deixar a roupa para lavar no Hospital. No entanto, vestia-se sempre de fato e gravata mesmo no pino do Verão.

Em novo, porque não havia meio de se decidir a casar-se, a sua namorada de muitos anos resolveu deixá-lo.

Nos últimos anos, já velho e doente, conseguiu reatar a sua relação com esta senhora (D. Maria da Graça), mas só muito tarde aceita casar-se com ela.


1969 - Exposição de pintura no Hotel Siroco (Olhão), que foi aliás a única exposição de Adriano! Ao seu lado vemos ainda o Dr. Ferro e sua esposa Rosalba Coco

Como era agnóstico, primeiro aceitou o casamento civil e, apenas quando já estava muito doente e não podia sair de casa, aceitou o casamento católico. O padre Falé disponibilizou-se a deslocar-se a sua casa.

Pouco tempo depois, morre Adriano Baptista.

Assim como a sua mãe nunca o compreendeu e num episódio de conflito lhe queimou vários escritos, também a sua esposa nunca compreendeu o valor das suas pinturas e após a sua morte deu-as ou vendeu-as aos desbarato...

Poucos deram pelo que se estava a perder no momento. Só mais tarde, e progressivamente, começou Olhão a tomar consciência da singularidade do artista que tinha falecido... nesse dia 3 de Janeiro de 1977.

Eis algumas caricaturas e pinturas do mestre:













 
   

António Paula Brito de Pina

Nota: agradeço ao sr. Renato de Almeida, que privou de perto com Adriano Baptista, todas informações que me forneceu.

Bibliografia:

bullet Barbosa, José - Visto e ouvido... em Olhão... reflexões - Câmara Municipal de Olhão, 1993, pp. 141-142
bullet Villares, João - Quem é quem em Olhão? - 1ª ed., 1º Vol., Livraria Clinar, Olhão, 2004, pp. 40-43
bullet Câmara Municipal de Olhão - Exposição de Caricaturas de Adriano Baptista - Galeria da Restauração, Olhão, 10 de Março a 28 de Abril de 2006.