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Diamantino Piloto

(1922 – 2000)

Diamantino Augusto Piloto nasceu em Tavira, na Rua do Poço do Bispo, a 24 de Maio de 1922, sendo filho de Raul Piloto, operário soldador na Fábrica de Conservas Balsense. A sua mãe era costureira.

Quando tinha apenas seis meses de idade, os seus pais mudaram-se para a Vila de Olhão por motivos profissionais, e aqui se radicaram. Assim, Diamantino Piloto é, para todos os efeitos, um olhanense.

Fez a Instrução Primária em Olhão, e a seguir frequentou o Liceu de Faro, mas depois passou para a Escola Industrial e Comercial Tomás Cabreira, também na cidade de Faro, pois a sua grande ambição eram as Oficinas, tendo frequentado o curso de Serralheiro Mecânico.

A seguir conseguiu fazer os estudos preparatórios para a admissão ao Instituto Industrial de Lisboa (IIL), onde veio a concluir o curso de Electrotecnia e Máquinas, no ano de 1947. De salientar, que o IIL é a mais antiga Escola de Engenharia do País, pois foi fundado por Decreto de 30 de Dezembro de 1852. A designação actual é Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL).

Aos formados pelo Instituto Industrial era atribuído na altura o título de Agente Técnico de Engenharia, que mais tarde foi alterado para Engenheiro Técnico.

Iniciou a sua carreira profissional, como professor de Matemática na Escola Industrial e Comercial Tomás Cabreira em Faro, sendo docente no período de 1948 a 1952. Mais tarde foi também professor de Matemática na Escola Industrial de Olhão.

Ainda no âmbito profissional, como engenheiro técnico, em 1952, Diamantino Piloto entrou como funcionário da Inspecção Geral dos Produtos Agrícolas e Industriais, onde chegou a chefe da Secção de Pesos e Medidas.

Depois, no ano de 1962, transitou para a Federação dos Municípios do Algarve, e aqui desempenhou as funções de chefe da Secção de Métodos e Estudos. Mais tarde, entrou para a grande empresa Electricidade de Portugal (EDP), onde veio a permanecer até à aposentação como quadro superior da EDP.

Desde muito jovem que Diamantino Piloto manifestou interesse pelas letras e pela música.

No campo da música, estudou guitarra clássica em Lisboa, com o mestre Duarte Costa, e veio a ser um exímio executante deste instrumento. Em 1965, por sua iniciativa, criou uma escola de guitarra no Centro de Actividades da Câmara Municipal de Faro.

Nesse mesmo ano, reconhecendo os seus conhecimentos e interesse pela música, a grande pianista Maria Campina, convidou-o para ensinar a prática de guitarra clássica no Conservatório Regional do Algarve, de que era directora. Veio a ser professor deste instrumento durante onze anos no Conservatório.

Promoveu em Olhão concertos de guitarra clássica com o mestre Duarte Costa que havia sido seu professor, e que a convite de Diamantino Piloto veio actuar pela primeira vez no Algarve. Foram quatro espectáculos com muita animação, que despertaram grande interesse na Vila, sobretudo por parte dos amantes da música.

No âmbito literário colaborou em diversos jornais, como “Gazeta do Sul” (Montijo), “Correio Olhanense”, “Algarve Ilustrado”, “Notícias do Algarve”, “O Olhanense” e “Boletim de Os Olhanenses”, entre outros. O director do Boletim era José Fernandes Lisboa, mais conhecido por Joseph, uma grande figura do Clube Desportivo “Os Olhanenses”, e um dos seus fundadores.

Este Boletim, com periocidade mensal, foi publicado de Julho de 1956 até Julho de 1972, e teve colaboradores notáveis, como Joaquim Carlos Silvestre, Dr.ª Maria Odete Leonardo (Maria de Olhão), Vitoriano Rosa, António Macheira, Herculano Valente, Nuno Cabeçadas, José Azinheira Rebelo, Correia Dourado, Daniel Siracusa Leal, Maria Zulmira Oliva e Humberto Gomes, entre outros.António Macheira, um jovem com futuro muito promissor no campo das letras, haveria de falecer prematuramente, em Dezembro de 1957, com apenas 24 anos de idade.

Diamantino Piloto foi redactor principal do jornal “Sporting Olhanense”, e um dos grandes impulsionadores da fundação deste quinzenário, em 15 de Maio de 1963, embora, por modéstia, o seu nome nunca tenha surgido no cabeçalho. Era director na altura, o Dr. Francisco Inácio dos Reis.

É um jornal emblemático no Algarve, e perante as comunidades de emigrantes olhanenses um pouco por todo o mundo, que ainda hoje se publica com o título de “O Olhanense”.

Foi com uma entrevista a Diamantino Piloto, que o jornalista Rafael Correia iniciou o programa “Lugar ao Sul”, da Radio Difusão Portuguesa (RDP), em 1983, uma emissão que haveria de se tornar emblemática ao longo de várias décadas para as gentes do Sul, sobretudo do Algarve e Baixo Alentejo.

Nas suas obras Diamantino Piloto salienta a cultura e a maneira de ser e viver da população olhanense, dos vários extractos sociais, como no livro “O Meu Olhão” (crónicas), publicado em 1989, com introdução da ilustre professora Maria de Olhão, que teve uma 2ª edição aumentada em 1997, com o título “O Meu Olhão (crónicas) e Contos de Olhão”.

Alguns dos seus contos foram premiados em concursos literários.

Era contemporâneo da Dr.ª Maria Odete Leonardo da Fonseca (Maria de Olhão), com quem colaborou em diversos eventos na área da cultura. Nas deslocações da professora a Olhão, era hábito encontrarem-se em interessantes debates na esplanada do Café Chaminé na Rua do Comércio.

Traduziu também da língua castelhana para português a obra “Vieja Crónica de Olhão”, que fora publicada em 1956 em Montevideu (Uruguai), da autoria do seu amigo de infância António Simões Júnior, escritor e antifascista olhanense emigrante na Argentina.

Após a tradução, este livro, que em português ficou com o título “Antiga Crónica de Olhão”, foi publicado em 1996, com prefácio de Joaquim Carlos Silvestre e coordenação editorial de Vitoriano Rosa, sendo depois difundido através da Papelaria Farracha.

Foi também um estudioso muito interessado da obra do ilustre escritor Eça de Queiroz.

Defensor da democracia e do associativismo, Diamantino Piloto fez parte da Direcção do Clube Desportivo “Os Olhanenses”, onde foi um dos promotores da criação da Secção Cultural e do Boletim. Foi também presidente da Assembleia Geral deste Clube, vice-presidente da Direcção do Sporting Clube Olhanense, e ainda presidente da Assembleia Geral da Sociedade Recreativa Olhanense.

Homem culto, de fino trato e muito cordial, sentia-se confortável junto das classes mais humildes, como operários e pescadores, mas sentia-se igualmente bem num ambiente mais solene e intelectual.

Com uma excelente memória, deu um valioso contributo no âmbito da cultura em Olhão, pois as suas crónicas, contos e artigos, referem com muita clareza o quotidiano das ruas, becos e travessas da Vila, assim como a azáfama nas fábricas, nos mercados, na doca e no cais. Menciona também as condições de vida precárias dos pescadores da Ilha da Culatra.

Com excelente memória, Diamantino recorda factos e histórias que se contavam em Olhão nos seus tempos de infância e adolescência, nos anos 20 e 30 do séc. XX, numa linguagem simples, semelhante ao original da população olhanense, sobretudo dos mais humildes.

Após a sua morte houve na imprensa regional muitas manifestações de pesar e de reconhecimento pela sua conduta e obra, de que registamos, entre outros:
- Um artigo intitulado “E o Amigo lá Ficou”, No Boletim dos Antigos Alunos da Escola Tomás Cabreira
- Um artigo na revista “Algarve Mais”, da autoria do amigo Vitoriano Rosa
- Um poema intitulado “Diamantino Piloto”, de Honorato Ricardo, professor na Fuzeta, publicado no jornal “Brisas do Sul”
- Um artigo da amiga Maria de Olhão, no “Jornal do Algarve
- Um artigo do amigo José Honrado Miranda no jornal “O Olhanense”.   


Manuel Pereira
(artigo saído n' O Olhanense de 1 de abril de 2025)






Resumo biográfico :

Notabilizou-se pela cultura, sobretudo como escritor e músico, e um grande amor por Olhão.

Nasceu apenas remediado - o pai era soldador numa fábrica de conservas e mais tarde passou a carteiro, sendo a mãe costureira -, em Tavira no dia 24 de Maio de 1922, e falece em Olhão a 7 de Março de 2000.

Logo aos 6 meses passa a residir em Olhão onde fez a instrução primária. O pai era um homem pouco instruído mas esclarecido, tendo sempre estimulado o filho a prosseguir os estudos, mas o jovem Diamantino quis começar logo a trabalhar aprendendo o ofício de serralheiro. Mais tarde o pai convence-o a estudar em casa, com a sua ajuda, e propor-se a exame. O pai, apesar de apenas ter a 4ª classe, estuda com o filho e este passa o exame do então 1º Ciclo (actual 6º Ano). Diamantino Piloto passa a dedicar-se em pleno ao estudo mas quando já estava quase no 5º Ano (actual 9ª Ano) prefere mudar para o curso industrial. Mais tarde termina o curso de Engenheiro -Técnico Electromecânico no Instituto Industrial de Lisboa.

Trabalhou então como professor nas Escolas Técnicas de Faro e de Olhão, foi funcionário da Inspecção Geral dos Produtos Agrícolas e Industriais, da Federação dos Municípios do Distrito de Faro e depois na Electricidade de Portugal.

Dedicou-se  com mestria à guitarra clássica, e foi professor deste instrumento no Conservatório Regional de Faro durante 11 anos. Em conjunto com alguns olhanenses virtuosos na guitarra clássica (Jónatas da Silva, Adriano Baptista, João Alberto, mais conhecido pelo Pad Zé) participou em muitos concertos e guitarradas e ainda promoveu uma série de quatro concertos de guitarra clássica com o seu mestre Duarte Costa em Olhão, memorável para os melómanos olhanenses.

Na década de 1950, faz parte da direcção do clube desportivo "Os Olhanenses" onde cria um boletim cultural com a colaboração de Joaquim Carlos Silvestre, António Macheira, Vitoriano Rosa, Ramos Rosa, e outros.

Neste boletim inicia-se a publicação dos seus primeiros contos que depois serão reunidos em livro: O meu Olhão (crónicas) e Contos de Olhão - Algarve em Foco, Faro, 1997.

Colabora também com a Gazeta do Sul e o Jornal do Algarve.

Traduz de castelhano para português "Vieja Crónica de Olhão" o livro escrito pelo seu amigo  António Simões Júnior (olhanense exilado na Argentina).

Em 1963 cria o quinzenário Sporting Olhanense que na época preenche a lacuna grave de não existir na Vila qualquer periódico desde 1952, do qual é chefe de redacção até 1967. Os contos que neste jornal vai publicando acabam por ganhar diversos prémios literários.

Alguns classificam-no com escritor neo-realista por retratar nos seus contos a gente típica da sua terra, nas suas alegrias e nos seus dramas, escrevendo como se fosse um pintor a utilizar, ou cores garridas e quentes, ou de negro profundo.

Efectivamente, Diamantino Piloto escreve diversas crónicas de Olhão, cuja leitura é essencial para quem se interessa pelo cidade, e muitos pequenos contos, dos quais a meu ver, existe um que se destaca como uma pequena obra-prima da literatura mundial - O «Cêdê» - relativo a um marítimo pobre da ilha da Culatra.

Neste Website é possível ler alguns extractos de crónicas escritas por Diamantino Piloto sobre o Natal e a Primavera em Olhão.

António Paula Brito de Pina

Bibliografia: