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DR. PAULA NOGUEIRA
(1859-1944)

João Viegas de Paula Nogueira nasceu em Olhão, a 10 de Junho de 1859, filho de João Viegas Nogueira e Joaquina Paula Nogueira, e morreu em Lisboa a 16 de Dezembro de 1944.

Paula Nogueira era descendente de uma modesta família, para cujos magros proventos contribuiu, quando estudante, com os escassos recursos obtidos em lições e explicações. Logo, ainda, na juventude, eram admiradas as suas judiciosas observações, os conhecimentos revelados sobre literatura, arte, ciências. Dotes que se rotulavam de invulgares, para a idade e o nível de educação recebidos. A boa aceitação do incipiente estudante nos meios intelectuais de Olhão, onde residia, justificam o convite a Paula Nogueira, para conferente, numa sessão comemorativa de Camões e, logo, a atribuição de subsídios para frequentar, em Lisboa, o ensino da sua preferência - o Instituto Geral de Agricultura, onde se diplomou em Medicina Veterinária, em 1886.

Em 1888, foi nomeado Inspector Sanitário da Câmara Municipal de Lisboa, depois, Inspector do Mercado Geral de Gados e, ainda, responsável pela fiscalização do contrato de abastecimento de carnes à Capital. Pela distinção e competência no desempenho daquelas funções, a Câmara Municipal de Lisboa louvou Paula Nogueira e conferiu-lhe a medalha de prata.

A licenciatura e iniciação profissional de Paula Nogueira, coincidiu com um período de alta projecção da Medicina Veterinária nos meios científicos nacionais, com o começo da Bacteriologia em Portugal, a investigação e docência exercidas pelo Lente Joaquim Ignácio Ribeiro ao qual se juntaram Antunes Pinto e, depois, Paula Nogueira. A estes três investigadores se deve o prémio da Microbiologia, em Portugal, ainda que em condições precárias, no Pavilhão de Química do Instituto Geral de Agricultura.

Os três pioneiros da implementação das teorias de Pasteur, em Portugal, conseguiram depois, 1886, com a Reforma de Emídio Navarro - extinção do Instituto Geral de Agricultura e criação do Instituto de Agronomia e Veterinária - um Laboratório de Bacteriologia em edifício próprio e convenientemente apetrechado. Este Laboratório, o primeiro Laboratório de Bacteriologia, em Portugal, ainda, hoje, existente nas estruturas da actual Faculdade de Medicina Veterinária, em Lisboa , recebeu em 1930 (no ano seguinte à sua aposentação) o nome de Laboratório Paula Nogueira porque, ali, até 1929 (data da sua reforma por limite de idade), o Mestre prestigiou a Bacteriologia e foi seu diretor.

Após a licenciatura, Paula Nogueira tinha sido nomeado Chefe de Serviço depois, em 1893, é Lente da 17a Cadeira do Instituto de Agronomia e Veterinária, Patologia e Clínica das Doenças Contagiosas, Direito Veterinário. Mantém a Regência da Cadeira (1915), ainda que com outra designação: Patologia, Clínica das Doenças Contagiosas, Polícia Sanitária, Jurisprudência Veterinária, Deontologia, na Escola de Medicina Veterinária.

Em 1918, é Professor Ordinário na, então, Escola Superior de Medicina Veterinária, da 9a Cadeira, regência que exerceu até ter o limite de idade (1929), tendo exercido a direcção da Escola Superior de Medicina Veterinária de 1923 a 1930. É também em 1918 nomeado Director dos Serviços de Instrução Agrícola do Ministério da Agricultura, talvez porque no mesmo ano foi eleito Senador da República.

Como Lente, era reconhecida a fluidez da dicção, o burilado e riqueza das lições magistrais. O Governo, após a sua reforma e por proposta do Conselho Escolar, na data da jubilação, nomeou Paula Nogueira, Director Honorário da Escola Superior de Medicina Veterinária.

Na atividade política republicana encontrámos referências à sua relevância nacional já em 1897, ano em que toma posse na Comissão Municipal Republicana de Lisboa, juntamente com Teófilo Braga, Andrade Neves, Teixeira de Magalhães e Coelho da Silva. Em 1907, na Academia de Estudos Livres, de orientação republicana, novamente encontramos o Dr. Paula Nogueira a presidir uma sessão solene para a distribuição de prémios aos alunos mais distintos.

Em 1918, já em plena República e em finais da 1ª Guerra Mundial, Paula Nogueira foi eleito Senador da República, pelo Minho, nas listas do Partido Nacional Republicano, e logo na sua primeira intervenção (ver aqui), mostrou os seus conhecimentos científicos, com a vastidão dos seus pontos de vista em matéria de fabrico, higiene, qualidade do pão e suas consequências na população pobre.

Durante a sua longa carreira de professor e cientista tomou parte em numerosos congressos internacionais da sua especialidade, onde apresentou notáveis trabalhos, nomeadamente no Congresso da Tuberculose (Coimbra-1895), Congressos Veterinários Internacionais de Berna (1885), Baden-Baden (1899) e Londres (1914), Congresso de Patologia Comparada de Paris (1912) e Comité Internacional de Epizotias, de Paris (1911). Entre outras obras, publicou as seguintes:

·         Ensaio de Bacteriologia Pratica aplicada às doenças do homem e dos animais, (1893)

·         Micróbios e Vacinas: esboço (1886)

·      As Ilhas de S. Miguel e Terceira, (1894)

·      O Novo Tratamento da Difteria e o Instituto Bacteriológico de Lisboa (1895)

·         A Tuberculose Pecuária e a Higiene Pública (1896, em colaboração com o Dr. Sousa Martins)

·      O Carbúnculo e as Vacinas Carbunculosas (1898)

·         Les Animaux Agricoles (1900)

·         L’Agriculture aux Açores et Madère (1900)

·         Abastecimento Urbano de Leite (1914)

·         Aproveitamento dos salgados do Algarve pela exploração do gado lanígero (1915)

·         Doenças Internas Não Contagiosas Dos Animais Domésticos (1917)

·         Doenças externas não contagiosas dos animais domésticos (1917)

·      Doenças Contagiosas E Parasitários Dos Animais Domésticos (1918)

·      Professor Joaquim Inácio Ribeiro (1916)

·      Gados (1929)

·         Bois, Vacas e Vitelas (1932)

·         Abastecimento de Carnes à Cidade de Lisboa (1934)

 

O Professor foi Director da Revista de Medicina Veterinária e após a aposentação, continuou a realizar uma notabilíssima obra de divulgação agrícola e veterinária, sobretudo como colaborador dos jornais Vanguarda, O Século, Diário de Notícias, Gazeta das Aldeias, Lavrador, Portugal Agrícola, etc.

Escreveu também sobre muitos outros assuntos, nomeadamente sobre Olhão (ver aqui) e o Algarve na revista O Algarve Ilustrado.

Era sócio honorário da Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa e do Instituto de Coimbra e sócio correspondente da Academia Veterinária de França, da Sociedade Veterinária de L’ Aube e da Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais.

O Governo Português, premiando o seu labor científico, concedeu-lhe a comenda da Ordem de Santiago da Espada e o Grande Oficialato da Ordem de Mérito Agrícola; e por ocasião destas homenagens, a Câmara Municipal de Olhão deu o nome deste seu ilustre patrício à rua da vila onde ele nasceu (a antiga Rua Direita).

Em homenagem póstuma a tão ilustre olhanense, o Ministério da Educação Nacional deu também o seu nome, em 1968, à Escola Preparatória do Ensino Secundário de Olhão, atualmente a Escola Básica 2,3 Dr. Paula Nogueira de Olhão.

 

 António Paula Brito

Nota: as informações e texto foram transcritas dos trabalhos de

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Antero Nobre - Doze Olhanenses que muito honraram a sua terra

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blogue de Luis Dantas (http://luisdantas.skyrock.com)

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artigo de Baptista Braz - Galeria de Notáveis Vultos da Medicina Veterinária Portuguesa: João Viegas Paula Nogueira (ver aqui)